Em meio a pandemia que estamos passando, chegamos ao triste número de milhares de mortos pelo COVID-19 no Brasil. Um número alto, maior que a média populacional da maioria das cidades do país, mas o que isso tem causado nas pessoas? Medo, incertezas, insegurança? Ou justamente o contrário?
É certo que esta é uma crise sem precedentes, mas em virtude dos ânimos políticos, onde querem decidir se o coronavírus é real ou não, acabamos desprezando este número tão expressivo de pessoas mortas, e parece que o país não está de luto.
Não que nosso povo não seja solidário e empático, longe disso, sofremos muito com Brumadinho, Mariana, Iconha, mas ainda assim, não estamos de luto por esta tragédia que tem acometido nossa população. O Brasil ainda não conseguiu viver seu luto.
Milhares de pessoas estão enterrando seus entes neste momento, muitos não puderam sequer se despedir, e isso irá repercutir na forma como lidarão com o luto individual, e isso pode ser uma tragédia.
Quando retornarmos ao “normal”, e não sabemos se isso será possível, temos que pensar muito na saúde mental de todos que perderam alguém para esta tragédia, que foram impedidos de viver e experimentar seu luto de maneira correta e digna.
Mas afinal, o que é luto?
O luto é a angústia por uma perda de algum ente ou pessoa que morreu, ou algum ciclo que terminou. É o processo emocional e sentimental que vivencia a ausência e o vazio causado por uma perda.
O processo de luto é totalmente individual, mesmo que haja outras pessoas envolvidas na mesma dor, pois cada um tem a sua capacidade própria de interpretar esse vazio, desde o momento de um choro até os dias que irão seguir.
A expressão do luto pode se dar por manifestações físicas, como uma dor no peito, e emocionais, como a tristeza, raiva e ansiedade. Em paralelo também há quem se manifeste de maneira silenciosa.
Ou seja, não há um estereótipo ou regra a ser seguida para manifestar um luto. Ele é o reflexo da sua capacidade emocional de lidar com momentos frágeis e de comportá-lo no seu dia a dia.
Existe intensidades e momentos diferentes. Um luto pode começar antes mesmo da morte de alguém, quando há alguma doença complicada envolvida, por exemplo.
Mas há também quem, na psicologia, classifique o luto em normal, quando há um repertório de respostas saudáveis que possibilitam a expressão da dor da perda, e o luto complicado, em que há uma série de sintomas físicos e mentais resultantes da incapacidade de se expressar, seguido por um isolamento ou período de negação prolongado.
Existem diversos tipos de luto, e os mais comuns são:
Luto Natural: é aquele que as pessoas vivenciam após a perda de um ente querido, ou alguém próximo.
Luto Intermitente: é aquele que permanece não resolvido ao longo do tempo, durante vários anos, e, por vezes, para o resto da vida, interferindo no estado emocional da pessoa e impactando significativamente a sua vida.
Luto Antecipatório: se inicia a partir do diagnóstico de uma doença crônica sem possibilidade terapêutica de cura, por exemplo. É um fenômeno adaptativo, no sentido de que é possível, tanto ao paciente quanto aos familiares se prepararem cognitiva e emocionalmente para o acontecimento seguinte, que é a morte.
Luto Traumático: é aquele que vem de situações inesperadas, como um acidente de carro, ele torna-se ainda mais doloroso e traumático.
Luto Coletivo: desencadeado por mortes em grande escala, como desastres naturais, catástrofes ou pandemias.
Luto não Reconhecido: é aquele não reconhecido pelos mais próximos ou pela sociedade, diminuindo a dor do enlutado e aumentando sua angústia. Exemplo: morte do animal de estimação, separação conjugal ou aposentadoria.
Luto Adiado ou Inibido: é quando o indivíduo não demonstra sinais exteriores frequentes do processo de luto, como tristeza e raiva. A tristeza é inibida, e o indivíduo não permite que a realidade da perda seja vivenciada. Em alguns casos, o indivíduo que inibe a sua dor e angústia pode apresentar queixas psicossomáticas.
É além dos diversos tipos, o luto também tem diversas fases.
Como não somos acostumados a conversar sobre a morte, nossa cultura não aborda isso com naturalidade. Pelo contrário, a maioria das pessoas pensam algo tipo: “Nem pense nisso…”, “Fecha a boca…”, “Não fale para não atrair…”.
Uma referência muito utilizada na compreensão do processo de elaboração de luto é a autora Elizabeth Kubler-Ross.
Ela sugere que uma pessoa em iminência de morte, como pacientes terminais, e as pessoas com vínculo afetivo à pessoa que faleceu, podem passar por até cinco estágios, geralmente nesta ordem e com peculiaridades:
Negação: consiste em uma fase de negação do acontecimento; a pessoa não acredita, acha que pode haver enganos. Esta fase está sujeita a ser vista como forma de defesa de algo improvável e pode durar minutos ou até mesmo anos (como nos casos das pessoas que continuam sempre esperando seus entes queridos).
Raiva: sentimento de raiva, dor, medo e culpa que podem variar muito em intensidade e freqüência. Esta fase é a mais delicada, a pessoa está incongruente e pode ter atitudes desagradáveis, piorando o clima diante de um tratamento ou em um velório.
Negociação: a revolta anterior não trouxe alívio, aí vem os pensamentos sobre fazer algo para reverter o acontecido.
Depressão: esta fase gera grande sofrimento, a maior colaboração de quem está ao lado pode ser um ouvinte paciencioso e apenas estar ao lado.
Aceitação: com o sofrimento um pouco mais suavizado, a pessoa faz reflexões e tem percepções mais congruentes com a situação, facilitando a aceitação do ocorrido e possibilidades de reação.
Se você está encontrando dificuldades para lidar com estas e/ou outras condições, não hesite em buscar por ajuda.
É sempre importante lembrar: este conteúdo não substitui uma avaliação com psicólogo e/ou psiquiatra, não substituindo assim o processo terapêutico.